sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Conversando com a Morte...

Ontem encontrei-me com a morte. Não contei nada a ninguém, não quis alarmar. Mas ontem a morte bateu na minha porta, e eu vendo o seu rosto tão jovial e acolhedor deixei-a entrar.
Ela entrou com um largo sorriso no rosto enfeitando a sua face mais alva do que a neve...
Pedi para que ela se sentasse...
Ela sentou.
Perguntei se ela desejava beber algo.
Ela recusou.
Sentei-me então de frente a ela, mirando aquele ser tão belo, tão inocente, tão doce eu não sentia medo dela.
- O que te trás aqui? - Perguntei depois de um silêncio entontecedor.
- Vim buscar algo que me foi tirado a muito tempo... - Disse ela com uma voz serena. Falava pausadamente, com uma dicção perfeita e uma musicalidade em cada palavra.
- Algo aqui na minha casa? - Perguntei.
- Sim. - Respondeu ela.
- Vieste me buscar? Não me leve, por favor! Eu tenho medo...
- Garanto que se me ouvires entenderás... Há muito tempo atrás...
exactamente 16 anos, eu te ganhei...
- A mim?
- Sim, a ti... És minha! Sempre foste... Certo dia te levaram de mim...
- Quem?
- A vida, minha irmã. E eu nesses anos todos estive a sua espera, a espera que estivesses pronta e perfeita... tudo até o dia de hoje que viveste eu assisti. Te protegi de todos os perigos...
- Mas o maior perigo és tu.
- É o que a vida te faz pensar... jamais te faria mal, jamais te magoaria... Eu ouvi as suas suplicas, quando mesmo sem saber quem eu era me pediste para que eu te levasse para mim... E eu quis, mas não pude. Fui cuidando de ti a distância fui sendo o seu anjo da guarda... até hoje.
- E porque hoje?
- Porque hoje eu morro e tu me vais substituir...

Kamilla Oliveira

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